Filosofia

Review: “O Fim Para o Qual Deus Criou o Mundo”, de Jonathan Edwards

Opinar sobre um livro de alguém como Jonathan Edwards é algo um tanto “humilhante”, no bom sentido em que você torna-se mais consciente de suas limitações e do quanto espaço ainda existe para conhecer a Deus mais profundamente. Mesmo não sendo um Puritano como muitos o consideram 3Isso seria um anacronismo, afinal Jonathan Edwards nasceu e viveu no século XVIII e o movimento dos que foram denominados Puritanos aconteceu entre o final do século XVI e no século XVII , Jonathan Edwards demonstra uma genialidade e um amor pela Palavra e pela exposição que podem sim serem considerados uma herança puritana. Esse livro é uma grande demonstração de motivo pelo qual até alguns incrédulos reconhecem a genialidade concedida Edwards pelo Senhor.

Em “O Fim Para o Qual Deus Criou o Mundo”, Edwards enfrenta a filosofia presente em sua época (e cujos ecos ainda se ouvem no século XXI) de que o fim para existência de tudo seria a alegria humana. Para isso, ele apresenta o assunto por duas óticas: a primeira abordada pela razão e a segunda que concorda biblicamente com as conclusões racionais.

A primeira parte é um tratado muito consistente e minucioso dos motivos pelos quais sua glória seria o único motivo plausível, justo e lógico para suas obras. Como a glória de Deus contempla múltiplos aspectos de sua revelação e suas obras, há uma abundância de argumentos nas mais diversas áreas, como por exemplo: “Deus não seria egoísta fazendo tudo por si mesmo?” ou “Não é mesquinho querer louvor de seres ditos tão inferiores?”. Apesar de uma retórica elaborada e muitas vezes densa (tive de ler umas cinco vezes a primeira página da introdução e anotar para entender de fato), um leitor atento encontrará uma imensidão de argumentos e fortalecimento do seu próprio entendimento sobre o assunto.

A segunda parte completa a primeira, com uma pesquisa invejável (e, pasmem! Numa época sem softwares como Logos nem apps da Bíblia! tudo feito na mão!) sobre o como a Palavra corrobora com a afirmação de que o fim derradeiro de toda a criação é glorificar a Deus. São versículos atrás de versículos sendo destrinchados de forma clara e simples. Uma das seções favoritas é segue algo como: sabendo que Cristo é Deus e de que sua vinda a Terra tinha propósito, e de que as obras dele aqui deveriam corroborar para o mesmo propósito eterno da criação, então logo aquilo que era o propósito de Cristo deveria ser o propósito final da Criação. Assim, olhando cuidadosamente as palavras de Cristo entendemos que seu propósito era, sim, a Glória do Pai. Suas obras, como seus milagres e principalmente seu sacrifício redentor apontam para a glória de Deus. Se você é do tipo que lê cada referência bíblica citada, irá se deleitar: além das muitas passagens que são expostas, existem diversos rodapés com dezenas de versículos para consulta. De fato, é uma exposição muito rica do tema.

Não é uma leitura muito simples e fluída, admito. A primeira parte pode ser desanimadora pelo teor filosófico, mas siga em frente! É tanto filosofia de primeira qualidade quanto teologia de primeira qualidade! Mais do que sobre o fim para o qual Deus criou o mundo, propriamente dito, esse livro é um tratado da Soberania de Deus. Lê-lo tem o potencial de humilhar sim, não apenas pela genialidade e espiritualidade do autor, mas sim perante aO Autor – do universo, de tudo que nele há.

Para quem já saiu do “leite”, essa leitura pode ser uma carne muito gostosa de se saborear. Recomendo a leitura! Que o efeito dela seja prático pra mim e para você: ser grato a Deus pelo que Ele é, reconhecer onde e quando falhamos nisso e nos esforçarmos em viver para a glória dEle!

João Lucas Lucchetta
João Lucchetta – também conhecido como Luke – é co-fundador do Projeto Reflita. Trabalha como Desenvolvedor de Software na área financeira e tem interesse em assuntos como Cosmovisão Cristã, Teologia Puritana e Filosofia da Tecnologia.

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