Eu acho que você deve estar acompanhando ou pelo menos ouvir sobre o cenário político do nosso país. No momento que eu estou escrevendo isso estamos no meio de uma crise política que foi iniciada durante uma crise de saúde pública (causada pela pandemia do COVID-19) e com uma crise econômica por vir.
Com o nosso Brasil cada vez mais polarizado e uma carga emocional muito forte atrelada a essas discussões, eu tenho visto vários irmãos em Cristo se “enfrentando” por causa do assunto de política e isso tem me deixado tanto chateado quanto preocupado por um motivo em especial: imaginar o como isso afeta o corpo de Cristo, isso é, a Igreja.
Nós, cristãos, vivemos na constante batalha de estarmos no mundo sem sermos do mundo, e na nossa jornada aqui naturalmente desenvolvemos opiniões e simpatizamos com causas. Contudo não deveria existir um sentimento “nós versus eles” dentro da Igreja.
Um dos motivos para essas desavenças é que vemos, em geral, duas reações dos cristãos quando o assunto é política:
A primeira, é quando deixamos o evangelho e seu poder de lado e tornamos o sistema político num ídolo. Quando o púlpito se torna palanque eleitoral e as portas das igrejas comitês de campanha, o evangelho está sendo deixado de lado. O maior problema do Brasil (e do mundo) não é o político, é o espiritual. Precisamos menos de salvadores da pátria e mais dO Salvador.
A outra reação é tornar o assunto de política num tabu que causa medo nas pessoas. Não é porque a política não deve ser um ídolo que nós devemos evitar o assunto totalmente e nunca falar sobre ele ou ter opinião. O próprio Jesus foi confrontado e respondeu sobre assuntos dentro do espectro político, como em Marcos 12 na questão sobre impostos.
O Pastor Tim Keller, autor de A Fé Na Era do Ceticismo e muitos outros livros, disse numa publicação no The New York Times que muitos cristãos do começo do século XIX não terem condenado abertamente a escravidão (para não entrar em assuntos políticos) na realidade deu mais força ao problema.
Ou seja, a comunidade Cristã se abster totalmente das discussões que envolvem política, seja por medo ou por ignorância nos torna negligentes. Devemos sim lutar contra o racismo, o aborto e outros tópicos relevantes. Caso contrário, passamos a impressão que de a Palavra de Deus não os considera pecado. O problema ocorre ou quando fechamos nossos olhos ou quando isso (a luta política) se torna maior do que a nossa missão espiritual.
Bom, dado com a gente pode falar sobre política sem idolatria e sem ofender e causar contendas com nossos irmãos?
Ore a Deus por direção
A oração deve preceder qualquer coisa que um Cristão faz e quando o assunto é política, não muda nada. A gente deve sempre nos lembrar de que tudo na terra está submisso à vontade e ao controle de Deus, que ele tem domínio sobre todas autoridades e poderes. 1 Timóteo 2 diz:
Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.
1 Timóteo 2:1,2
Não buscar a ajuda e direcionamento de Deus numa discussão como essa é se fadar ao fracasso. Por isso, ore e peça que Deus o guie quanto aos seus posicionamentos e o modo como falará sobre esses assuntos tão delicados.
Controle seu ego
Política, hoje em dia, tem sido o grande “Fla-Flu” da sociedade. Discussões acaloradas são cada vez mais comuns, e as pessoas se envolvem em discussões muitas vezes sem nem cogitar que podem estar errados. Isso é uma influência do pós-modernismo, onde todo mundo acha que tem sua própria verdade, mas também é resultado do nosso próprio ego, da vontade de dizer “eu avisei” ou algo assim.
Contudo, Deus não se importa com a eloquência dos seus argumentos pelo sistema político A ou B, pela teoria C ou D ou sua defesa do candidato Fulano ou Beltrano. Deus importa com a sua santidade e sua comunhão com os irmãos em Cristo. Não troque o prazer da convivência da família Cristã pelas vitórias retóricas!
Aja com amor
Se somos Cristãos isso quer dizer que fomos alcançados pela Graça de Deus e por isso devemos demonstrar graça aos outros da mesma maneira. Não tem exemplo maior do que Cristo, que apontou os erros da sociedade do seu tempo e os pecados arraigados no coração do povo com amor e serenidade. Imagine como seria recebida a mensagem de Cristo se ele tratasse com desdém e ignorância àqueles que discordavam dele?
Empatia é a palavra chave aqui. Empatia significa a “habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem.” Ter empatia pelos seus irmãos que discordam de você é tentar entender as motivações por trás das opiniões deles.
Radicalizar para dos dois lados é péssimo. Não acho que um irmão seja “fascista” por ter escolhido um candidato ao esperar, entre outras coisas, mais segurança para seus filhos voltarem da faculdade. Também não acho que um irmão seja “comunista” por esperar mais apoio social do governo aos mais pobres ou algo assim. Existe muito por trás da decisão de apertar um botão ou outro no dia da eleição.
Se o seu irmão ou irmã defende um determinado sistema político, é porque ele ou ela acredita realmente que ele vai ser o melhor pra ela e para os outros. Bem, existem problemas com todos os sistemas, candidatos ou frentes de pensamento políticas. Não é um problema de A ou B. Por isso discutir sem se colocar na posição do seu irmão em amor, é arriscar sua comunhão com ele por assuntos terrenos.
Muitas vezes ficamos cegos por causa de ideologia. Porém, acima de todas as bandeiras e posições nós temos uma identidade em Cristo, e isso deve se sobrepor a qualquer outra coisa.
Honre aos irmãos e aos governantes
Por mais que você tenha suas discordâncias por motivos políticos, mantenha a posição de honrar os outros. Não queira vencer os argumentos a qualquer custo e dar a última palavra, por exemplo. Isso demonstra um ego inflado e te impede de honrar seu irmão, reconhecendo o lado dele.
Paulo, em Romanos 13, instrui que nós honremos os governantes, mesmo aqueles que parecem maus. Ore pelos seus irmãos, ore pelos governantes, ore pela salvação deles! Não participe de difamações, não compartilhe notícias falsas – além da mentira, óbvio, isso desonra aos outros. Ainda em Romanos 13, é dito que “O amor não faz mal ao próximo, portanto o cumprimento da lei é o amor.”.
Deixe a Palavra moldar sua visão, e não o contrário
Novamente partindo do ego humano, costumamos tentar encaixar o que nós acreditamos na Palavra, buscando embasamento para aquilo em que já cremos. Se queremos discutir política é necessário que tenhamos uma cosmovisão centrada na bíblia, analisando a Palavra em busca de respostas e não buscando justificativas para as respostas que já temos.
Todos os “ismos” (capitalismo, socialismo, comunismo, anarquismo) se tornam nada perto da perfeição do Evangelho e do reino eterno de Cristo. Por isso a gente deve sempre buscar apontar para Cristo, e não tem modo de fazer isso sem se basear na Sua Palavra.
Conclusão
Deus usou até mesmo o Faraó ou Ciro, governantes pagãos, para cumprir sua vontade na terra. Com certeza não precisamos tomar a situação em nossas mãos como se o nosso ide fosse “Ide e pregai a palavra do socialismo/liberalismo”. Deus não está de olhos fechados para a situação do nosso país nem de qualquer outro.
Espero que possamos entender que esse assunto é delicado e que nos empenhemos em vivermos confiando de que a vontade de Deus é perfeita, estudando sua Palavra e moldando nosso coração por ela. Só assim podemos honrar a Deus e abordar assuntos como esse de forma verdadeiramente Cristã.