Eu acho que nunca me senti confortável em orar antes de uma refeição, mesmo em casa, e quando estou em público, eu temo. Eu tento calcular a oração para que o garçom não nos interrompa. A ideia de um garçom esperando enquanto minha família ora antes de uma refeição me faz sentir constrangido e culpado, como se eu estivesse impondo minha religião a eles. Eu não quero ninguém perto de mim se sentindo desconfortável me vendo e ouvindo orar. Além do mais, digo a mim mesmo: será que importa se eu oro pela comida? Eu paguei por isso. Eu sei que sou grato. E estou com pressa. Não é a necessidade de dizer graça apenas legalismo, ritual vazio que na verdade me deixa menos grato? No momento, especialmente quando estou com fome, é muito mais fácil começar direto com a comida e, talvez, se eu me sentir culpado, eu possa orar algo em silêncio algo como: “Desculpe, Deus, mas você conhece meu coração”.
Pode ser que você nunca tenha tido nenhuma reticência em orar por uma refeição em público, mas eu espero que você possa ver que muitos outros cristãos se sentem desconfortáveis. Nenhuma parte deste desconforto decorre da ascensão do secularismo em nosso país. Mesmo nos estados religiosos em que morei, como Texas e Oklahoma, você não vê a maioria das pessoas orando antes de suas refeições em público. A ampla suposição da nossa sociedade é que o exercício religioso pertence aos nossos corações, aos nossos lares ou à nossas igrejas. Não pertence a uma mesa no McDonald’s.
Demonstrações públicas de atos religiosos são mais ofensivas do que demonstrações públicas de afeto, o que, em minha opinião, explica parcialmente as reações de alguns americanos aos muçulmanos que fazem suas orações diárias. Para muitos americanos, ver alguém praticando religião em público parece um pouco como assistir pessoas bêbadas ou mentalmente instáveis em público. O que eles vão fazer depois? Por que eles não estão sendo racionais? Por que eles não conseguiram manter isso para si?
Essa é uma razão pela qual dar “graças” pode ser um testemunho de um mundo que vê que nossa fé não é uma preferência pessoal que mantemos discretamente escondida por trás de nossa vida pública “normal”. E, ao dar “graças”, desafiamos a etiqueta social secular que privatiza as práticas religiosas, isso é um testemunho disruptivo.
Motivo Certo
Nós certamente não devemos orar para sermos vistos ou para deixar as pessoas desconfortáveis. Nós não oramos em voz alta para que os outros fiquem chocados e perturbados pela nossa piedade. Ser um “Louco por Jesus” apenas para ser um louco capitula no jogo do secularismo na medida em que transforma nossa fé em uma propaganda, um sinal para os outros. A prática da nossa fé acaba por ser a publicidade da nossa fé, que é o tipo exato de vazio no cerne de tantas crenças contemporâneas que estamos procurando evitar.
Se nossas orações públicas ou qualquer outra manifestação pública de fé deixarem de ser primariamente sobre o propósito espiritual – neste caso, agradecendo a Deus por sua provisão – e em vez disso se tornarem sobre os outros vendo-nos serem gratos a Deus, então nós trocamos a coisa pela aparência da coisa. Nosso motivo deve ser gratidão a Deus, não a busca por atenção. Mas se realmente evitarmos orações públicas porque nos sentimos socialmente desajeitados, ou porque parece que estamos impondo nossa fé sobre nossos vizinhos, precisamos ser capazes de chamar isso de auto anulação: uma capitulação às ideias seculares da vida pública.
Desafiando as narrativas materialistas
Outra maneira que a oração é um testemunho disruptivo é que ela desafia uma explicação materialista da provisão. Embora hajam quase inumeráveis visões aceitáveis acerca da totalidade em nossa era secular, a maioria delas assume que vivemos em um universo fechado em que tudo ou praticamente tudo pode ser explicado por uma explicação empírica, materialista e científica. A Física e a Química são responsáveis pela totalidade da existência. Podemos chegar a muitas conclusões diferentes dessa suposição. Por exemplo, alguém pode olhar para o mundo puramente material como um dom quase transcendente que requer nossa admiração e adoração. Tal pessoa pode demonstrar gratidão pela Terra em toda a sua vastidão. Outros podem acreditar que a comida à nossa frente é um testemunho do potencial humano para a grandeza – nossa capacidade de cultivar a terra e produzir bons alimentos de forma eficiente e econômica. Outros ainda podem simplesmente tomar providências como um presente, sem se incomodarem em considerá-lo, a não ser na medida em que sejam responsáveis pelo pagamento da comida.
O que é incomum é a visão de que qualquer alimento que esteja diante de nós é um presente de um Deus pessoal que nos fornece porque nos ama. Quanto mais divorciados somos do cultivo de culturas e animais, e quanto mais mecânica e manufaturada nossa comida nos aparece, menos a vemos como um presente. Quando nossas refeições nos chegam cuidadosamente embrulhadas em papel de mãos envoltas em luvas de látex que tiraram ingredientes de sacos plásticos hermeticamente fechados que foram criados em uma fábrica higiênica e automatizada, não é fácil ver a mão de Deus no trabalho nos proporcionando tudo isso.
Contingências de clima e estações, erros humanos e comportamento e saúde animal foram cuidadosa, sistematicamente e tecnologicamente reduzidos o máximo possível. Pense, por exemplo, no fato de que as pessoas modernas esperam poder ir ao mercado e comprar maçãs o ano todo. A humanidade dominou a natureza e não devemos gratidão à humanidade – devemos apenas uma compensação monetária. Isto, naturalmente, torna o ato de dar graças a Deus ainda mais perturbador.
Gratidão Específica
Se eu sou grato ao cozinheiro ou à cadeia de restaurantes ou ao capitalismo ou técnicas agrícolas modernas ou ao meu trabalho que me permite comprar comida ou mesmo uma concepção semi mística da Mãe Terra, eu ainda estou aceitando fundamentalmente que a comida diante de mim é completamente o resultado de processos no mundo material. Mas agradecer a Deus é desafiar essa lógica. Este não é um senso de gratidão genérico ou impessoal para com a natureza ou o universo, mas uma gratidão específica por uma refeição a um Deus pessoal cuja graça comum proporciona a todos nós.
Praticada regularmente, dar graças é um lembrete de que a maneira como as coisas nos parecem como pessoas modernas não é a verdadeira. Debaixo de toda a embalagem, produção e procedimentos, permanece a providência e o poder de sustentação de Deus. Na verdade, o mundo e o nosso ser dentro dele é muito mais contingente do que sabemos.