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Deus e ciência: A ciência tornou Deus obsoleto?

“A ciência agora prova aqueles deuses serem falsos ídolos. Em breve todos os deuses serão provados falsos ídolos. A ciência tem dado resposta para quase toda questão que o homem pode fazer.”

– Maximilian Kohler, Anjos e demônios (Dan Brown)

A ciência tornou Deus obsoleto? Dan Brown, de Maximilian Kolher, argumenta que por ter dado explicações racionais para o nascer e o pôr do sol, a ciência tornou o deus grego Helios dispensável. Em todo campo, a crescente da ciência retira a necessidade de postular as atividades dos deuses. Kohler expressa o que está na mente de muitas pessoas atualmente.

Ironicamente, a crescente da ciência tomou lugar na direção oposta em que Kohler retrata. Kohler sugere que a ciência destruiu os deuses. Na verdade, a destruição dos deuses criou uma abertura para a ciência. Como?

A religião politeísta dos gregos dizia que haviam diversos deuses. Havia tantos planos divinos e tantos propósitos quanto deuses. Como os deuses interagiam de forma caótica, as pessoas não tinham garantia de que o mundo mostraria uma ordem estável. A religião grega desencorajou qualquer esperança para uma exploração científica para uma ordem racional.

A ciência moderna surgiu no contexto do monoteísmo cristão, o qual deslocou os deuses gregos e deu confiança para o potencial científico por meio de três princípios fundamentais:

  1. Um Deus racional legisla todas as coisas (Gênesis 1:1; Salmos 33:6), e então nós podemos esperar uma ordem universal.
  2. Deus criou o homem à sua imagem (Gênesis 1:26-27), e então o homem é naturalmente sintonizado com a mente de Deus e tem esperança em compreender a ordem [no sentido de organização, não de mandamento] dada por Deus.
  3. O mundo que Deus criou não é divino, e portanto está aberto para a investigação humana.

Na verdade, a palavra de Deus é o fundamento para a lei científica. De acordo com Gênesis 1, Deus pela palavra especificou a ordem regular para o sol, a lua e as estrelas, e o padrão regular para o crescimento e reprodução das plantas (Gênesis 1:11, 14-15). O que os cientistas chamam de lei científica é na verdade seu descobrimento sobre a especificação de Deus, “que assim seja”. Cientistas em sua investigação estão na verdade investigando a mente de Deus e pensando Seus pensamentos após Ele – apesar de seu limitado nível humano.

Antigos cientistas como Copérnico e Isaac Newton entenderam que eles estavam diante da criação de Deus. O universo foi:

“Criado para nós pelo Melhor e Mais Ordeiro Trabalhador de todos.”

“Quão extremamente excelente é o trabalho divino do Melhor e Maior Artista.” (Copernicus, The Revolution of the Heavenly Spheres)

“Ele é eterno e infinito, onipotente e onisciente; isto é, sua duração alcança de eternidade à eternidade; sua presença do infinito ao infinito; ele governa todas as coisas, e sabe todas as coisas que são ou podem ser feitas…e, portanto, muito acerca de Deus; ao discurso de quem, a partir das aparências das coisas, certamente pertence à Filosofia Natural.” (Isaac Newton, Principia Mathematica, 440-442)

Na verdade, as leis científicas demonstram os atributos de Deus, como a onipresença (o mesmo em todos os lugares), imutabilidade, imaterialidade, invisibilidade, transcendência (acima do fenômeno particular), imanência (tocando os detalhes). Esta exibição confirma o que está escrito na Bíblia: 

“Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas.” (Romanos 1:20)

Cientistas modernos às vezes evitam este testemunho de Deus tentando pensar que essas leis que eles investigam são impessoais, uma forma de mecanismo sem uma mente por trás. Este pensamento é uma forma de idolatria, na qual troca o verdadeiro Deus por um substituto. Como todos os substitutos, deve ser suficientemente parecido com o verdadeiro Deus para enganar as pessoas. (Por exemplo, isso ainda supostamente garante a ordem.)

Mas os cientistas ainda acreditam que as leis são fundamentalmente racionais, e fundamentalmente semelhantes a linguagem, portanto podem ser descritas na linguagem humana e por meio do discurso humano. Racionalidade e a habilidade de linguagem complexa pertencem à pessoas, não à plantas, pedras e minhocas. Cientistas claramente contam com o caráter pessoal das leis. Ao mesmo tempo, eles clamam que ela é impessoal. É um clamor conveniente, porque assim podemos evitar a responsabilidade moral diante de Deus, que é pessoal. Existem razões espirituais do porquê é desconfortável reconhecer a verdade, e porque queremos evitá-la.*

Cristo veio ao mundo. Naquele ato, Deus se tornou homem, e veio nos reconciliar com Ele. Ele mesmo ultrapassou a barreira de nossa rebelião, a qual nos faz desejar evitar a verdade sobre o Deus que é a verdadeira base da lei, e portanto a base da ciência.

*N. T.: Diversos filósofos cristãos como Pascal e Kierkegaard tratam esse detalhe. Para Kierkegaard, é preferível aos filósofos criarem um sistema e viverem no erro do que reconhecerem a verdade cristã.

Leitura adicional

Vern S. Poythress, Redeeming Science: A God-Centered Approach. Wheaton, IL: Crossway, 2006. Especialmente capítulo 1.

Nancy R. Pearcey and Charles B. Thaxton, The Soul of Science: Christian Faith and Natural Philosophy. Wheaton, IL: Crossway, 1994.

Stanley Jaki, The Origin of Science and the Science of its Origin. South Bend, IN: Regnery-Gateway, 1979.

Reijer Hooykaas, Religion ahd the Rise of Modern Science. Grand Rapids: Eerdmans, 1972.

As citações de Copérnico e Isaac Newton foram extraídas de James Nickel em “Mathematics: Is God Silent?” (rev. ed.; Vallecito, CA: Ross House, 2001), 112, 127.

Vern Poythress
Rev. Dr. Vern Poythress é professor de Novo Testamento e Interpretação Bíblica no Westminster Theological Seminary, onde tem ensinado pelas últimas quatro décadas. Anteriormente serviu como editor do Westminster Theological Journal. Com uma ampla gama de interesses, escreve com profundidade teológica sobre diversas áreas como linguística, matemática, ciência e sociologia.

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